Corpo de Bombeiros de Rondônia tem alto grau de êxito em ocorrências de enfrentamento ao suicídio

Portal de Rondônia
Por Portal de Rondônia

Os números assustam. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos do mundo; essa é uma das principais causas de morte, especialmente entre jovens de 15 a 29 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas essa estatística não intimida os abordadores técnicos do Corpo de Bombeiros Militar do Governo de Rondônia (CBMRO) que estão sempre prontos para interromper a ideia de que mais pessoas, pelos mais diversos tipos de sofrimento emocional, queiram desistir da vida.

Por meio das abordagens técnicas, eles têm a missão de resgatar a motivação de estar vivo, de pessoas que pensam que o suicídio é a única saída para o sofrimento que vivem. O major BM Felipe Bernardo Vital, capacitado para atuar em ocorrências desta natureza, por meio do curso de negociador especializado em altura, já atuou em vários casos.

Infelizmente a qualquer momento chega a notícia de que mais uma pessoa tenta o suicídio. No mesmo momento em que o major BM Vital concedia entrevista para falar sobre situações que ocorrem, ele foi chamado às pressas para atender a mais uma ocorrência que teve o final feliz, pois a pessoa renunciou da ideia de desistir da vida.

Outro caso exitoso aconteceu quando uma rapaz subiu em um prédio de uma instituição pública, e foi convencido a desistir de saltar do edifício. Passado o momento tenso, o rapaz compartilhou com o major a gratidão por ter alguém que se importou em salvar a sua vida, e fica feliz ao saber da notícia de cada ocorrência bem sucedida.

A ocorrência também terminou com um desfecho feliz no caso de uma mulher que subiu em uma torre de transmissão de energia e desistiu de pular, e de outra que ameaçou se jogar da ponte sobre o rio Madeira, mas foi convencida a não fazer.

Mas nem todas as experiências do major tiveram o resultado esperado. Em abril de 2013, após mais de cinco horas de conversação, um jovem de 23 anos que havia subido em uma torre, em Porto Velho, se jogou da estrutura de 50 metros. Ele lembra do ocorrido. ‘‘Foi o único que perdi, ele se jogou, quase consigo segurar ele pela perna’’, lamenta o major BM Vital.

”Cada ocorrência é muito tensa e difícil, pois a cabeça do ser humano não é algo exato, é uma caixa de surpresa, não sabemos de fato o que se passa em sua mente, só ele mesmo sabe; então, uma situação que parece ser tranquila, pode não ser. Precisamos de tempo, calma e controle emocional para que tudo ocorra bem, precisamos transmitir isso para que ele ou ela vejam que existe alguma saída que não esteja vendo e sinta confiança em quem está na hora dialogando”, completa major BM Vital.

Também na linha de frente das abordagens, o major BM Francisco Pinto Andrade Júnior, capacitado no curso de negociador, e de abordagem técnica a tentativa de suicídio, conta os desafios de impedir que suicídios aconteçam. ‘‘É um desafio muito grande, estamos lidando com pessoas que não estão sadias mentalmente, e isso tem que ficar claro para gente, pois o raciocínio da pessoa não está sendo igual ao nosso’’.

O major aponta algumas características que apresentam os que tentam o suicídio. Uma delas é a ambivalência, ao mesmo tempo que elas querem acabar com a dor tirando a própria vida, elas também querem ser salvas. Outro aspecto é a rigidez, a pessoa não consegue encontrar saída para o problema que está passando, e é preciso auxiliar a pessoa a entender que a morte não é a melhor saída.

‘‘Cada ocorrência é complicada e única, lembro de cada uma que estive trabalhando. Graças a Deus, nunca perdi ninguém em uma ocorrência’’, afirma o major BM Andrade Júnior.

Ele conta que aquelas que envolvem jovens o marcaram muito, especialmente uma que o jovem de 18 anos ameaçava pular da ponte, idade do filho dele, na época. Outra ocorrência com um jovem de 18 anos também ficou na memória do major. ‘‘Depois que ele já estava na nossa unidade de resgate, seguro, comentou que todo dia antes de abrir os olhos pensava em tirar a vida. Foi uma frase que me marcou muito’’, destacou.

Os abordadores envolvidos na missão precisam ter algumas habilidades importantes para a função como: ser paciente, ter empatia, entender a situação da pessoa, e uma das posturas consideradas essenciais apontadas pelo o major BM Andrade Júnior, é jamais fazer promessas que não possam ser cumpridas, mas sempre tratar com a verdade. O major BM Vital acrescenta que é preciso também ter controle emocional ao extremo e habilidade para fazer uma leitura antes e durante o cenário; e saber que qualquer palavra ou gesto pode levar ao sucesso ou não da ocorrência.

ABORDAGEM HUMANIZADA

A abordagem humanizada com base na conversação é feita conforme a postura de cada pessoa que precisa ser ajudada. Há aqueles que estão cabisbaixo, chorando bastante, mais quietos com um perfil depressivo, mas também tem outros mais agressivos que são aqueles que ficam agitados e ofendendo. Já há outros com perfil psicótico que não falam com coerência e veem o que não existe.

O major BM Andrade Júnior chama atenção para o fator considerado muito importante para contribuir para a melhora da pessoa após a tentativa, que é que a abordagem aconteça de forma que a pessoa decida desistir do suicídio, ao invés do abordador, aproveitar a aproximação e forçar a pessoa a desistir, pois ela se sentirá enganada e em uma provável nova tentativa haverá mais dificuldade de ajudá-la. Sendo assim, a abordagem tática só é utilizada como último recurso.

Os abordadores são unanimes ao apontar o que mais choca em uma ocorrência de tentativa de suicídio.‘‘O que mais me choca nas ocorrência é a atitude das pessoas em volta. Ainda tem pessoas que ofendem o tentante, incentivam eles a pularem. Mas no Código Penal, é crime instigar ou induzir alguém ao suicídio, assim como quem presta auxílio para que o mesmo tire a própria vida, como aqueles que levam a corda e entregam a arma’’, esclarece o major BM Andrade Júnior.

”A multidão que se forma, e muitas das vezes ao invés de ajudar, atrapalha, e como a cabeça da pessoa muda de um minuto paro outro. Uma hora você acha que está conseguindo, mas em outra muda o cenário, muito complicado lidar com a cabeça do ser humano’‘, afirma o major BM Vital.

O major BM Andrade Júnior faz um alerta:  ”Ao contrário do que muitos pensam, de que o tentante não quer ser socorrido, a tentativa de tirar a vida, se expondo ao público deve ser interpretada como um pedido de socorro”.

O major Vital reforça que na situação de suicídio a pessoa também precisa de socorro, precisa ser ouvida, precisa de atenção. ”É o que fazemos, para assim tentar ajudar a dar um norte e fazer com que ela pare e reflita”.

A cada ocorrência exitosa, o sentimento da equipe é de dever cumprido. ‘‘Ficamos felizes de que mais uma vida seja salva, e principalmente saber que a pessoa terá uma outra oportunidade’’, considera o major BM Andrade Júnior.

”Alívio e gratidão a Deus por mais uma vida salva”, afirma o major BM Vital.

Eles deixam uma mensagem para todos aqueles que estão passando por algum sofrimento emocional. ”Deus nos deu o fôlego de vida, e independe do que você esteja passando, tirar a vida não é a solução. Não desista, lute sempre. Deus é o caminho e saída para nossos problemas, busque força nele e no seu próximo, e corra atrás, não se isole e não deixe que isso cresça e alimente seu coração, não deixa que o inimigo vença na sua mente, para tudo há uma saída”, afirma o major BM Vital.

‘‘Sempre há uma saída. Sabemos que é difícil quando se passa por uma situação complicada, enxergar a saída, encontrar a solução. Nos deparamos muito com isso, de acharem que a morte é a única forma de acabar com a dor, com o sofrimento intenso. Mas se procurar ajuda, é possível sair dessa condição. Existe uma rede de apoio’’, ressalta major BM Andrade Júnior.

Quem quiser ajuda, pode entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo 188. A sociedade, e especialmente os familiares devem estar atentos para somar forças para amparar quem está passando por uma dor profunda.

O cuidado, segundo o major BM Vital, precisa começar em casa, com a família percebendo que aquele ente está muito solitário, isolado. ”Deve se aproximar, conversar e tentar descobrir o que está motivando ele ao isolamento; a sociedade como um todo deve estar atento a esse detalhe, procurar ajuda de um especialista para cuidar o quanto antes dessa doença que vem crescendo a cada ano no mundo e levando muitas vidas”, finaliza.

Fonte: Secom

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