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No SUS, 54% dos casos de câncer de próstata são diagnosticados em estágio avançado

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Dos 44.660 casos de câncer de próstata diagnosticados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Brasil em 2023, 54% estavam nos estágios 3 e 4. Isso significa que a doença já avançou, atingindo as vesículas seminais ou se espalhando para outras partes do corpo.

Os números fazem parte do levantamento Câncer de Próstata no Brasil, realizado pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida. A pesquisa fez o cruzamento dos dados mais recentes do Inca (Instituto Nacional de Câncer) e do Ministério da Saúde, de 2022 a 2024.

“O principal motivo da demora é a ausência de sintomas nas fases iniciais da doença. O câncer de próstata costuma evoluir de forma silenciosa, e muitos homens acreditam que sentir-se bem significa estar saudável”, afirma a urologista Karin Anzolch, diretora clínica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

“Quando surgem sintomas, como dificuldade para urinar, sangue na urina ou sêmen, dor óssea, perda de peso, a doença já costuma estar em estágio avançado”, diz.

Segundo o levantamento do instituto, 62% dos homens só procuram ajuda médica quando a dor é insuportável.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a expectativa de vida dos homens no Brasil é, em média, cerca de sete anos menor do que a das mulheres. Há uma combinação de fatores, desde a exposição a comportamentos de risco até a menor frequência de consulta a profissionais de saúde.

Rodolfo Borges, vice-presidente da SBU e professor de urologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, afirma que pacientes do sistema público têm maior risco de receber o diagnóstico com a doença já disseminada.

“Muitos não têm acesso adequado à informação sobre prevenção e saúde, o que os leva a buscar atendimento apenas quando surgem sintomas urinários”, explica.

Geraldo Alves, 69, começou a sentir os primeiros sinais da doença em 2008. “Eu sentia orgasmo, mas não ejaculava”, conta. “Os médicos falaram que era por conta do envelhecimento.”

O diagnóstico correto só aconteceu 14 anos depois, em 2022. A biópsia realizada apontou que o câncer já estava em estágio 3, mas sem metástase (espalhamento).

Morador de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), Geraldo conta que fez consultas particulares com um urologista no município e outro na capital Belo Horizonte, a cerca de 600 quilômetros. Ambos minimizaram os sintomas, sem pedir o PSA (Antígeno Prostático Específico) -primeiro exame feito para detectar alterações na próstata.

“Um médico falou que eu não tinha nada. Depois o outro falou que eu não tinha nada. Se fosse um câncer agressivo, eu poderia ter morrido nesse tempo. Eu dei sorte”, diz.

Em 2020, uma médica clínica geral do programa Estratégia Saúde da Família pediu exames e identificou o PSA elevado, indicando problemas na próstata. Apesar disso, ficou quase dois anos sem acompanhamento médico devido à rotatividade de profissionais no serviço público.

Em abril de 2022, após novo exame apontar PSA ainda mais alto, foi encaminhado para cirurgia. Conseguiu realizá-lo em novembro daquele ano, na Santa Casa BH. Hoje está curado.

Segundo Anzolch, o acesso à educação, à informação, bem como equipes de saúde treinadas para o diagnóstico é “crítico” em diversas regiões do Brasil.

“Isso se acentua quando se necessita de atendimentos mais especializados, incluindo os urológicos, e a exames como PSA, ressonância e biópsias. O resultado é o que vemos nos dados nacionais, com mais da metade dos casos diagnosticados em estágios avançados”, afirma.

Na perspectiva de Marlene Oliveira, idealizadora do Novembro Azul e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, determinantes sociais e “vazios assistenciais” dificultam o acesso ao tratamento no país.

“Não podemos esquecer que vivemos em um país continental, com desafios gigantes. Muitos homens precisam se deslocar até 800 km para realizar seus tratamentos. As unidades básicas de saúde muitas vezes funcionam em horários que não atendem a essa realidade, dificultando o acesso”, afirma.

Outro ponto destacado pelos especialistas consultados para a reportagem são as barreiras culturais e os tabus que afastam os homens dos cuidados médicos.

“O preconceito em torno do toque retal e o estigma de vulnerabilidade masculina são barreiras históricas. É um comportamento reforçado por uma cultura que associa preocupação com a saúde e autocuidado à fraqueza”, explica Anzolch.

Esta reportagem faz parte do projeto Vita, desenvolvido com apoio do Hospital Sírio-Libanês

Fonte: Notícias ao Minuto

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