Polícia
Atirador ataca escola austríaca, mata 11 e deixa feridos

Graz, a segunda maior cidade da Áustria, a 198km de Viena, a capital, viveu ontem um dia de tragédia com impactos pelo país. Aos 21 anos, um ex-aluno de uma das principais escolas da cidade promoveu um tiroteio em plena manhã de aula. O jovem usou duas armas e atirou nas salas de aula. Pelo menos 11 poessoas morreram, inclusive ele próprio que se matou. Há, ainda, feridos e o país está em estado de choque. A maioria das vítimas é de adolescentes. Os números são atualizados a todo momento. O governo federal decretou três dias de luto nacional.
As autoridades buscam explicações para a atitude do ex-estudante da escola de ensino médio BORG Dreierschützengasse, com 400 alunos, uma das maiores da cidade. Por volta das 10h de ontem (5h de Brasília), o jovem que disparou as armas contra duas salas de aula, inclusive uma que ele havia estudado, em seguida, suicidou-se. Cerca de uma hora depois da invasão do atirador na escola, a polícia mobilizou uma operação de segurança envolvendo uma unidade das forças especiais e vários helicópteros.
A escola foi evacuada e a área ao redor esvaziada. Perplexas, as autoridades convocaram entrevista coletiva à imprensa, informando que apenas informações confirmadas seriam divulgadas e que um plano nacional de seguirança para todos os colégios da Áustria. Visivelmente emocionado, o chefe de governo austríaco, Christian Stocker, foi até o local e referiu-se a uma “tragédia nacional”. “É um dia sombrio, um excesso de violência impensável”, afirmou Stocker.
“É difícil suportar que escolas se transformem em lugares de morte e violência”, afirmou por sua vez a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Nossos pensamentos estão com nossos amigos e vizinhos austríacos e compartilhamos seu luto”, acrescentou o chefe de governo alemão, Friedrich Merz.
O professor Leandro Freitas Oliveira, doutor em Neurologia e Neurociências, professor da Universidade Católica de Brasília, que pesquisa questões relativas à violência coletiva, alertou que, mesmo a Áustria sendo tão distante do Brasil, o país não está imune. “É fato que a realidade do Brasil é diferente da Áustria em muitos aspectos sociais, culturais e econômicos, mas nenhuma sociedade está imune a esse tipo de violência. Por isso, é fundamental acompanhar esses fenômenos com atenção e criar estratégias de prevenção adequadas ao contexto brasileiro, cuidando de nossa saúde mental coletiva e reforçando os valores de empatia, acolhimento e solidariedade.”
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Em frente à escola onde houve a tragédia, foram colocados alguns buquês de rosas e velas. Uma norte-americana, moradora da região e mãe de dois filhos, disse estar “em estado de choque”. “Graz é uma cidade segura”, apontou Roman Klug, um artista de 55 anos que “mora a poucos passos” do local do tiroteio. Segundo ele, a escola “é conhecida por sua abertura e diversidade”.
Explicar talvez seja uma palavra forte, entretanto, a ciência, especialmente a neurociência e a psicologia, pode oferecer alguns elementos para pensarmos sobre eventos tão complexos e trágicos. Não há uma causa única, mas, sim, uma combinação de diversos fatores. Há estudos que demonstram alterações em regiões do cérebro responsáveis pelo controle emocional, agressividade e impulsividade. Essas alterações podem deixar indivíduos mais suscetíveis a comportamentos violentos, principalmente quando associados a outros fatores, como distúrbios psiquiátricos não tratados, abuso de substâncias ou trauma psicológico. Além dos fatores biológicos, aspectos psicológicos e sociais em igual ou maior importância, desempenham um papel fundamental. Pessoas que vivenciam bullying, rejeição social, abandono familiar ou isolamento crônico podem apresentar alterações na percepção sobre si e sobre os outros, podendo aumentar sentimentos de raiva, ressentimento ou desesperança. Portanto, um indivíduo que reúne vulnerabilidades biológicas, somadas a vivências traumáticas ou a um ambiente social nocivo, pode acabar se envolvendo em situações de extrema violência como esta.
Pela sua experiência, é muita ousadia pensar em medidas preventivas?
Sabemos claramente que muitas tragédias poderiam ser evitadas com a adoção de medidas preventivas eficazes. Investir em prevenção significa criar ambientes sociais e escolares seguros e acolhedores, com um bom suporte emocional e psicológico para estudantes e profissionais. O primeiro passo é identificar sinais precoces de sofrimento emocional, comportamentos agressivos ou isolamento excessivo, a partir dessa identificação podemos oferecer ajuda antes que o problema se agrave. É preciso investir seriamente na educação emocional e no fortalecimento de habilidades sociais desde a infância.É importante ressaltar que é emergente melhorar o acesso à saúde mental de qualidade. Repito: medidas preventivas não só são possíveis, como são essenciais.
O que acontece na Áustria pode “contaminar” o Brasil e outros países?
Não somente o Brasil, mas outros países no mundo. Esse fenômeno é conhecido como efeito de contágio social e acontece quando um comportamento violento ganha ampla divulgação e notoriedade. Em nossa era digital, onde informações se espalham rapidamente, indivíduos emocionalmente vulneráveis ou que se sentem invisíveis socialmente podem acabar sendo inspirados a reproduzir atos semelhantes.
Para saber mais
Nos últimos anos, vários ataques a instituições de ensino impressionaram pela violência. Na França, um aluno, de 14 anos, esfaqueou até à morte uma assistente educacional ontem, em frente à escola dele. No mês passado, houve um tiroteio em uma escola em Dallas, nos Estados Unidos, em que quatro estudantes perderam a vida. No começo do ano, um jovem, de 18 anos, matou a facadas um estudante e um professor em um colégio na Eslováquia.
Em dezembro de 2024, um jovem, de 19 anos, também usou uma faca para matar uma criança, de 7, e ferir outras em uma escola primária de Zagreb, na Croácia. Antes, em dezembro de 2023, um estudante de uma universidade de Praga matou 14 pessoas e feriu 25. Há dois anos, um adolescente de 13 anos matou a tiros oito colegas de classe e um segurança em uma escola primária na Sérvia. Em 2009, nove alunos, três professores e o mesmo número de pedestres, que passavam em frente a uma escola de Winnenden, no sul da Alemanha. O autor era um ex-aluno, que depois se suicidou.
Fonte: Correio Braziliense
